sexta-feira, 8 de junho de 2012

A virada de James Lovelock e a mídia brasileira


A reação de organizações como o Greepeace e o World Wildlife Fund foi o silêncio puro e simples. Até a conclusão deste artigo, não era possível localizar qualquer coisa sobre o assunto no sistema de buscas nos sítios de ambas as entidades.

Uma notícia impressionante passou praticamente despercebida na mídia brasileira ao fim do mês de abril. A situação é ainda mais interessante quando se contrasta o destaque internacional que a mesma notícia obteve. O distinto leitor deseja uma prova? Vá até o Google, digite “James Lovelock” e veja quantas publicações nacionais destacaram 
a entrevista de 23/04/2012, em que Lovelock assume que as previsões sobre o aquecimento global revelaram-se alarmistas [1]. Poucas! Por outro lado, abundam as referências em língua inglesa sobre o assunto.
O leitor mais bem informado deve conhecer algo sobre Lovelock. Cientista de renome mundial, autor da “Hipótese Gaia”, pela qual o planeta se comportaria como um organismo vivo mediante uma complexa interação entre diversos de seus ecossistemas, elementos e fenômenos físicos. Lovelock foi também um dos próceres da ideia de que o aquecimento global era um problema iminente e algumas de suas previsões foram realmente apocalípticas. O artigo “A Vingança de Gaia” (também nome do livro sobre o assunto) – publicado em 16/01/2006 no “Independent”, cuja tradução saiu na Folha de São Paulo em 23/01/2006[2] – entre outras coisas, diz que:
Estamos num clima de loucos, resfriado acidentalmente pela fumaça, e antes do fim deste século bilhões de nós morreremos e os poucos casais férteis que sobreviverão estarão no Ártico, onde o clima continuará tolerável.
Dentre outras estimativas, Lovelock disse[3] que até 2020 as secas serão mais comuns, até 2040 o deserto do Saara invadirá a Europa, Berlim será tão quente quanto Bagdá e no final deste século a população planetária terá encolhido em mais de 90%.
Pois bem, tais previsões (ou suas variações) foram reproduzidas de maneira retumbante no Brasil. Pergunta-se então: Por qual intrigante mistério quase não é possível achar na mídia nacional as seguintes declarações (extraídas do primeiro artigo referenciado):
The problem is we don’t know what the climate is doing. We thought we knew 20 years ago. That led to some alarmist books – mine included – because it looked clear-cut, but it hasn’t happened.
Tradução: O problema é que não sabemos o que o clima está fazendo. Achávamos que sabíamos 20 anos atrás. Isto levou a livros alarmistas – inclusive o meu – porque parecia óbvio, mas não aconteceu.
The world has not warmed up very much since the millennium. Twelve years is a reasonable time… it (the temperature) has stayed almost constant, whereas it should have been rising -- carbon dioxide is rising, no question about that
Tradução: O mundo não aqueceu tanto desde o milênio. Doze anos é um tempo razoável... ela (a temperatura) ficou praticamente constante, enquanto deveria ter aumentado – o dióxido de carbono está aumentando, não há dúvida disto.
Tais linhas deveriam ter sido publicadas e traduzidas em profusão, mas somente vi tal coisa no blog de Reinaldo Azevedo. Conforme demonstrado no caso Trayvon Martin[4], não é possível manter-se bem informado do que se passa no mundo lendo apenas a mídia pátria.
A reação de organizações como o Greepeace e o World Wildlife Fund também foi o silêncio puro e simples. Até o fechamento deste artigo, não era possível localizar qualquer coisa sobre o assunto no sistema de buscas nos sítios de ambas as entidades. Claro que nada se compara à mídia brasileira, pois no âmbito internacional, a bolha de silêncio sempre é furada pela mídia independente. Ocorre que esta última é praticamente inexistente em nosso país.
É verdadeiramente impressionante a quantidade de informações sobre as mazelas do aquecimento global ao mesmo tempo em que há uma ocultação das diversas críticas à tese.

Vejamos algumas delas que são constantemente abafadas na mídia nacional:
1) Os gráficos do IPCC contradizem a assertiva sobre o crescimento econômico ser fato gerador do aquecimento global: O relatório de 2007 do IPCC aponta aumentos de temperatura a partir da década de 70, mas omite considerações sobre o fenômeno oposto ocorrido antes disso, conforme os gráficos do relatório. As áreas mais industrializadas no mundo (América do Norte e Europa) tiveram queda de temperatura nas três décadas de pós-guerra, época em que experimentaram um crescimento econômico gigantesco. É no mínimo estranho associar o aquecimento global ao aumento da atividade econômica ao mesmo tempo em que os próprios gráficos do IPCC apontam a elevação de temperatura a partir da década de 70, quando boa parte do planeta entrou em recessão por causa da crise do petróleo. Isto significa que – analisando os dados de 1950 até 2000, o mundo se resfriou num período de crescimento e começou a se aquecer num período de retração econômica. Isto é exatamente o oposto do que prega o dogma ambientalista;
2) Hiperestimação do aumento de temperatura: A despeito de todo o alarmismo, as análises do IPCC demonstram que no século XX (era da industrialização em massa), a temperatura do planeta subiu em média um grau. Ocorre que podemos identificar inúmeras outras eras em que a temperatura subiu além disto, como ocorreu na Baixa Idade Média (século XI a XV) na Europa, o que inclusive foi benéfico, pois gerou a Revolução Agrícola, bem como crescimento populacional (somente interrompido pela Peste Negra do século XIV);
3) Supressão de opiniões divergentes: O IPCC foi acusado de simplesmente ignorar não apenas ideias divergentes de fora, mas também de dentro. O caso mais emblemático foi do professor Paul Reiter do Instituto Pasteur, que em entrevista[5] relata a esdrúxula situação em que nome foi colocado como signatário do relatório do IPCC, mesmo contra sua vontade e sem levar em conta suas discordâncias.
4) Pressão política: O problema anterior está intimamente ligado a este. O IPCC não se compõe simplesmente de cientistas (embora comumente se alardeie isto), mas também de pessoas que jamais fizeram pesquisa científica na vida. Sem dúvida alguma os cientistas preponderam no Grupo de Trabalho I, porém são menos numerosos no Grupo de Trabalho II e são franca minoria no Grupo de Trabalho III. Na mesma entrevista anterior, Paul Reiter denuncia isto[6]. Note-se que o Nobel ganho pelo IPCC não foi um prêmio científico, mas sim o Nobel da Paz. Conforme explica a própria Academia Sueca de Ciências, diferentemente das láureas científicas, o vencedor do Nobel da Paz é escolhido por um comitê que não contempla cientistas entre seus integrantes (embora eventualmente isso possa acontecer). Rigorosamente falando, isto significa que as qualificações científicas do IPCC foram julgadas por pessoas que em sua maioria ou totalidade não são cientistas.
5) Inversão de causa e efeito na relação entre aumento de temperatura e emissão de dióxido de carbono: O documentário “Uma Verdade Inconveniente”  produzido e narrado pelo político norte-americano Al Gore relata as pesquisas em camadas de gelo no laboratório russo da base Vostok, na Antártida, que identificaram uma correlação entre aumento de dióxido de carbono e aumento de temperatura. A informação é verdadeira, porém distorcida na correlação, segundo alegam seus adversários no documentário “A Grande Farsa do Aquecimento Global”, em que aparece a entrevista de um dos pesquisadores do laboratório, que de fato confirma que o aumento de dióxido de carbono e temperatura estão ligados, porém não da maneira que se pensa. Segundo ele a correlação é invertida. É o aumento de temperatura que aumenta a concentração de dióxido de carbono, segundo as conclusões de suas pesquisas, sendo que isto ocorre num lapso longo demais (800 anos) e que séries temporais curtas (como as utilizadas pelo IPCC) nada esclarecem.
6) Hipervalorização do Elemento Antrópico: Como já dito, alterações climáticas podem ser resultantes de fatores naturais internos e externos. Alega-se comumente que estes estão sendo subestimados em face da superestimação do fator humano. Elementos naturais internos como a evaporação de oceanos e a decomposição vegetal produzem muito dióxido de carbono. Por outro lado, as manchas solares afetam a temperatura dos planetas de maneira muito impactante. Tanto é que o planeta já sofreu crescimento e queda de temperaturas ao longo de sua existência, sendo totalmente falso afirmar (como se faz com frequência) que nunca a Terra esteve tão quente, quando na verdade durante a maior parte de sua existência o planeta teve uma temperatura violentamente mais alta, sendo seu resfriamento algo recente.
Encerro aqui com um episódio pessoal. Na época em que defendi minha dissertação de mestrado em Direito Ambiental, expus essas diversas críticas às teses do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) sobre o aquecimento global. Um dos integrantes da banca – um eminente engenheiro florestal com PhD em Harvard – reclamou de minhas observações. Todavia friso que o mesmo demonstrou integridade acadêmica e em momento algum disse que as mesmas não deveriam constar do trabalho. Discordou, mas não censurou. Ao final fui aprovado, mas posso dizer que tive sorte. Nos dias de hoje, qualquer pesquisa sobre clima e meio ambiente que conteste as conclusões oficiais sobre o assunto corre o risco de ser solenemente discriminada e desprezada, tal como foi a  entrevista de James Lovelock no Brasil.
[4] Vide artigo de Walter Williams: “Desonestidade midiática e vigaristas raciais” publicado no MSM.
[6] ... this claim that the IPCC the world's top 1500 or 2500 scientists, you look at the bibliographies of the people and its simply not true. There are quite a number of non-scientists (é dito que o IPCC se compõe dos 1500 ou 2500 melhores cientistas do mundo, mas  você olha as bibliografias dessas pessoas e isto simplesmente não é verdade. Há um grande número de não cientistas.


Daniel Antonio de Aquino Neto
 é professor de Direito da Universidade do Estado do Amazonas.

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