segunda-feira, 12 de novembro de 2018

A mesa da Agulha (uma nota)



Vai chegar um dia, meu filho, em que vais ver pessoas  que  andavam perto ou conhecias e convivias, que irão, lentamente se afastando de você.

 Hoje ao vir trabalhar, senti, ao chegar que o clima estava ruim, pessoas em silêncio e uma destas pessoas a quem me referi acima, sorrindo distante para mim. Aí notei que iria perder mais alguém de meu convívio. Aquela pessoa.

 O mais terrível é que você nada poderá fazer para evitar o afastamento.

Essa pessoa vai se afastar de você, e de tudo que representa a vida com o tempo.Ela não conseguirá mais dizer não aos pedidos da agulha.  Ela vai se afastar de seus amigos e colegas e conhecidos. Vai se afastar do seu trabalho, mesmo que a fome venha e ela não possa se sustentar. Estas pessoas não conseguem dizer não às demandas da agulha. Apenas obedecem

A agulha comanda.  Seu desejo é ordem.

Dokudami. É assim que são conhecidos no Japão. Os envenenados.

 Dói vê-los partir com aquele sorriso ausente de sentimento, sem mágoa, sem desespero e sem constrangimento.

 Estou perdendo mais um hoje. Sei que isso vai se repetir mais vezes. Pensei em você e em sua irmã, pois sei que as coisas vão ficar mais complicadas daqui pra frente e que seus amigos possuem ouvidos atentos à voz da agulha. Eles já te demonstram isso.

São ociosos e ganham tudo o querem, para que não incomodem o egoísmo paterno, que julga suficiente dar em vez de estar junto deles.

Mesmo assim, são vítimas. Inegável fato.

Isso os revolta por dentro. Com o tempo, a revolta sai de dentro e deixa seus hálitos com um gosto metálico e um odor fácil de reconhecer.

 Não foram ensinados a suportar mínimas frustrações e isso fermenta com o tempo em desilusão e despreparo, nunca em aprendizado.

A agulha mente. Mas eles possuem pouco a perder ou julgam possuírem pouco e resolvem arriscar. E perdem tudo o que julgaram não ter.

Você tem seu pai e sua mãe, sua irmã. Não somos perfeitos, mas tentamos fazer o melhor para que você se sinta bem vindo e amado. Nunca dê ouvidos á agulha. Ela vai querer você.

 Acredite, para ela seria um grande prêmio ter a sua cabeça sobre a mesa. E depois, na sala de troféus.

 E eu não suportaria ver aquele sorriso vazio em seu rosto, me dando adeus, sem ao menos, realmente se importar.

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Peter Pan, Captain Hook, Caim , Hotter - o chapeleiro e você.






















Peter Pan, o eterno menino, o rapaz de muitas potencialidades
adormecidas e latentes, com um mundo inteiro à minha frente. Isto é maravilhoso!
O que me faria abrir mão de tais títulos? Sou o Rei de NeverLand! Líder inconteste dos garotos perdidos!



O mundo me ama, sou um ícone eterno, um meme atualmente!

Ei! só um segundo! Eu não quero ser um meme...

Há uma grande diferença entre ser um ícone e ser um meme. Existem memes de ícones? Claro que existem! E eu sou um destes! Eles são ícones antes de serem memes e o fato de que hoje em dia são utilizados como memes não importa. Eles não ligam para isso. Mas eu sim.

Talvez porque antes de se tornarem ícones e daí se tornarem memes, os ídolos já eram há muito tempo personas exemplares aos outros.

Mas por que eu abriria mão de meu enorme potencial latente para me transformar em um adulto?
Adultos são obcecados com seus objetivos, são tiranos silenciosos, que pensam neles mesmo enquanto parecem distraídos ou relaxados.

Exigem muito de si e de quem está à sua volta e o pior, adultos possuem cicatrizes dolorosas, cortes e rasgos de lutas renhidas e ferozes!



Adultos se machucam constantemente e vejo o quanto ignoram o sangue que lhes esvai para encarar os olhos dos inimigos.

Adultos perdem braços e pernas e possuem feridas internas que muitas vezes não cicatrizam nunca.
Não quero ter um gancho no lugar da minha graciosa mãozinha juvenil. mesmo uma ferida interna, que ninguém perceba e só incomode em silêncio.


E tem mais. A solidão. Eles são solitários. Não sei viver só, e sou o rei dos garotos perdidos (já disse isso antes?), saímos por aí sem destino e fazemos coisas loucas e sem sentido. Ok, admito que isso não é lá grandes coisas.

Eu sou o rei da terra do nunca (também já disse isso e confesso também a irrelevância do fato de viver em um lugar que nem existe de verdade...mas olhe o Captain hook! Ele é constantemente perseguido pelo dragão do caos, que busca a todo momento devorá-lo e levá-lo à destruição e aniquilamento.

 Este dragão é dono do tempo, que guarda em sua barriga e todos sabem que o tempo é o inimigo dos planos dos que crescem e se tornam adultos, uma ampulheta acionada que não para nunca. É a morte chegando no próximo minuto.



Mesmo assim confesso que há algo que me falta, há um vazio além dos fatos que minha covardia em crescer vai me negar eternamente a não ser que eu dê o próximo passo.  E isso me traz uma culpa absurda, semelhante a uma amputação de um membro,  que por ser a mesma coisa dia e noite quando poderia ser mais me causa agonia quando estou só.

 Mesmo sendo um saco de potencialidades guardadas eu estou só, pois aqui me falta a Wendy. Estou só, e apesar de ser único, neste lugar mágico, onde tudo pode acontecer, eu não posso ser dois.

A minha estagnação é a testemunha que grita a minha total covardia. A zona de conforto é meu lar, meu país, mesmo irreal, Thinkerbell é minha Wendy virtual, minha substituta à realidade, mesmo que não possa realmente sentir e tocar, conversar e discutir, mas são pequenas satisfações, emoção barata para substituir a realidade dura, contas a pagar, escola das crianças, memorando do chefe, muta de trânsito, imposto de renda e discussão de relação.

A substituição do real pelo imaginário pode ser mais pálida e incompleta, mas dói menos. Pelo menos quando não estamos sós.

Mas Wendy está lá fora, no mundo real, ela é real, é humana e o tempo passa para ela, logo vou perdê-la se não abandonar a terra do nunca.
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Mas caso eu crie coragem para ir, para onde eu iria? São inúmeras as possibilidades aqui, onde tenho todas as possibilidades do mundo. Para onde devo ir? Que local apontar? por onde começar e como escolher? Talvez, deva escolher aquilo que possa proporcionar um bom começo. Prepare-se então para a viajem, coloque o seu chapéu e ponha os pés na estrada desconhecida.

Vamos para o Leste do Éden.

Então, vamos à barganha! Quem quer barganhar comigo? Alguém aí quer barganhar comigo?


Tem alguém aí, pelo menos?

O que eu tenho de valor? O que juntei de valor todos estes anos? Potencial serve?
Que seja alguém que tenha algo que eu desejo, mas o que eu desejo?

Então, que seja alguém que me dê algo valioso.

Saber das coisas agora se torna valioso. O conhecimento é uma arma. e mais que isso, o conhecimento é uma ferramenta. E ferramentas são tão úteis quanto armas, mas são muito mais utilizadas neste mundo real.

Um poder, do qual eu gostaria de ter parte nele. Um poder pelo qual eu daria algo de valor de dentro de mim, que valesse a pena. meu sangue, meu suor, minhas lágrimas de perda, dor, sofrimento. Uma parte de mim. Meu olho esquerdo colocado n beira do poço de Wyrd numa tigela branca, manchada de sangue.





Um sacrifício.







São 9 dias pendurado na grande árvore do mundo.


9 dias de fome e sede.

9 dias sangrando com uma lança afiada pendurada em minha barriga.

A sede me tortura, a lança me trespassa.

A solidão é uma lança em meu ventre, expondo meus intestinos, expondo meu interior.
















Após 9 dias as cordas afrouxam e saio da árvore.

Muito fraco. Quase morto. Sem meu olho.
Mas enxergando melhor agora.

Mas consegui sair com vida. E carrego o conhecimento em minha algibeira. O conhecimento é algo que ninguém pode me roubar e que nunca desaparecerá da minha vista.

A estrada do mundo se abre. E com ela, várias possibilidades.

Mas baseado no que ganhei, eu faço a minha escolha.

Uma de cada vez.
Outras virão.