sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

BRASÍLIA DESTRUINDO FAMÍLIAS

BRASÍLIA DESTRUINDO FAMÍLIAS


BRASÍLIA DESTRUINDO FAMÍLIAS

Denilson Cardoso de Araújo

Das temporadas em que a frequentei em missão sindical ou de trabalho, conclui: -artefato arquitetônico frio e distante, Brasília é a “Ilha da Fantasia”.

Dá bizantinos debates, argumentos grandiloquentes, pletora de teorias absurdas, visionarismos de botequim. Tudo descolado do piso das fábricas, desconhecedor do chão de esgotos das favelas, ignorante das gretas de terra nordestinas ou desdenhoso da lama de encostas serranas. Sapatos de verniz federal impedem aos pés deputados a pele encourada dos que pisam o real chão do povo descalço.

Vi decisões de Brasília parindo desastres políticos e criminosos abandonos sociais que condenam mães à lágrima. Baixa umidade atmosférica mais baixa humildade humana, parecem favorecer fluidos esotéricos que proliferam no Planalto, aumentando ilusões de ótica da paisagem sem horizonte. Pessoas ficam desorientadas. Dali o Brasil tem sido pródigo no dinamitar ferramentas indispensáveis à proteção de crianças e adolescentes.

Após o Congresso começar debates sobre a lamentável Lei da Palmada (v. “Palmada ou Cassetete”, na internet), vem desastrosa ADIN impetrada pelo serviçal PTB. No STF foram proclamados 04 votos contra o artigo 254 do ECA, que tenta eficácia a duas previsões constitucionais. A necessidade de classificação indicativa (Art. 21, XVI) e a proteção integral à criança e ao adolescente (Art. 227). Prevê sanções às empresas difusoras que exibirem programas fora dos horários recomendados, ou sem o alerta da faixa etária apropriada.

Argumentos do relator Toffoli: a seleção de programas que podem ser assistidos pelas proles cabe aos pais; e se é indicativa a classificação, é sugestão, não pode ser punido seu descumprimento. Ora, se é assim, vamos permitir livre acesso a sexy shops, zoofilia exposta nas calçadas, tudo a critério dos pais!

E que pais? Toffoli parece desconhecer que hoje proliferam pais de 16 anos e mães de 12! E os de 20 a 30, educados já sem âncoras e freios, entregam as crias aos avós! Isso quando não temos avós de 30 anos!

O Ministro Joaquim Barbosa pediu vistas para melhor avaliar o caso. Torçamos para que divirja e que o julgamento seja revertido! Não sendo assim, o lobby das rádios e TV’s sairá vencedor, com as pródigas campanhas para combater o que entendem ser “censura”. Com marqueteiros em geral, invocam “liberdade de expressão” como direito invencível.

Ora, não existem direitos absolutos, já se proclamou tantas vezes! E a “liberdade de expressão” – numa era de marketing publicitário criminoso, lixo ávido, alimentador de falsas necessidades; em dias de programação audiovisual tóxica, a fomentar superficialidade, sexismo e consumo – não pode continuar a ser observada, ingenuamente, como fosse a sagrada liberdade pela qual se constituíram democracias e direitos, na garantia de voz aos jornais que expressavam minorias, financiados por cotizações de idealistas e trabalhadores. Os tempos são outros e, na concentrada imprensa da notícia-espetáculo e da manchete paga, os idealistas foram expulsos ou comprados pelo mercado.

É ridículo e perigoso o contrassenso. Se a família tem autoridade e discernimento efetivo a ponto de poder decidir sem apoio quanto à programação audiovisual dos filhos, terá necessariamente que ter o poder de, inclusive, exercitar a palmada educativa contra a qual Brasília se movimenta no Congresso Nacional. Os fundamentos da decisão do STF (negação da classificação indicativa porque os pais têm discernimento) são contraditórios com os da decisão perseguida pelo Congresso (negação da palmada porque os pais não têm discernimento).
De tão contraditórias, ouso rogar todas as vênias para dizer que ambas as decisões (caso se concretizem como apontado) estão erradas! Precisamos da palmada e precisamos da classificação indicativa! Os jovens são adestrados pela mídia para a violência, como se vê das brigas, agressões, bulying e assassinatos em escolas. Essa mídia baseada em inconfessos interesses de mercado, precisa ser controlada.
A classificação indicativa é o mais necessário e brando dos controles possíveis.

Erro grave, típico da “Ilha da Fantasia” e do campo esotérico das teorias do Direito, desconhecer que, em seara infanto-juvenil, como na ecologia, decisões se regem pelo princípio da precaução. Estabelecido pela Declaração da ECO/92 (princípio 15), tal princípio prevê - grosso modo e em linguagem popular - que, se algo pode dar errado, não deve ser feito.


Acho que muita coisa já está dando errado na relação audiovisual x formação da psique infanto-juvenil. Vejam meu artigo “O Cavaleiro das Trevas Explode a Classificação Indicativa”, onde relato a perplexidade de ver pais (a quem o Ministro Toffoli concede discernimento inexistente), levando filhos de 03, 05 anos de idade a filme com classificação etária que deveria ser de 14 anos.
Isso quando há pais na casa! Isso quando a criança não possui 04 ou 05 “pais” diferentes e, não raro, divergentes!

O Congresso, o STF e a sociedade brasileira não podem desconhecer essa realidade. Aceitando essas decisões da Ilha da Fantasia, estamos desenhando belo manual de como destruir famílias já frágeis. Reajam, pais, famílias, igrejas, jovens, juízes, pessoas de bem!
*.*
Postado por Denilson Cardoso de Araújo às 12:06
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4 comentários:

Paulo disse...

Mesmo discordando em um ponto específico ou outro (afinal, cada um tem seu ponto de vista), o autor foi de uma felicidade rara ao escrever o texto.
Tenho por princípio crer que cada qual deva ter o direito de escolher o que bem lhe cai, aquilo que queira fazer, dentro da lei, do bom senso; vide minha opinião sobre aborto (eu não faria, mas não posso definir o que é melhor para a vida de uma mulher que tenha sido estuprada, por exemplo). Mas não dá para fecharmos os olhos sobre os descalabros existentes nas grandes cidades. Junte-se baixo nível de instrução, abandono sócio-cultural, baixa espectativa de evolução social, baixo nível de escolaridade, mídia perversa (principalmente a televisiva) com necessidade de sucesso instantâneo (Pânico, Gugu, BBB, Fazenda, novelas da Globo e as imitações de novela da Record, programas de auditório) e religiões que pregam a intolerância contra quem crê diferente e teremos um barril de pólvora que tem pavio curto e chama próxima. A explosão é o que temos visto. Caos mental e social. Me lembra as músicas do Cólera; mais atuais que nunca.
As leis citadas pelo autor são um avanço assombroso do ponto de vista social. Na Holanda ou na Suécia. Isso aqui é Brasil!! Um país de Macunaímas! Torto, barroco. Não é para principiantes, já dizia Jobim (o maestro, não o político).
Voltando ao texto, gostei muito do paralelo que o autor citou sobre princípio da precaução. E amplio. A visão do ecologista que se tem hoje é a do ecochato haribô cabeludo e maconheiro que cuida de plantinhas e bichinhos. PORRA EU NÃO SOU ASSIM!!! Mas já está provado por A + B que é necessário cuidado! Mas isso é outra discussão. Um dia escrevo sobre isso.
Bjos

Ademar Couto disse...

Quanto ao aborto, minha visão é a visão quadrada de que não existe duas verdades e sim uma só.. Não sou e nunca serei(acho) um relativista.por isso não creio que um erro possa ser consertado com outro, quanto ao caso específico do aborto por estupro.

A agenda de esquerda prevê destruição da família para implantação de um estado socialista(vide Marx). Isso não me agrada.
e eu sei onde vai dar, porque já tem dado em alguns países"desenvolvidos". na Bélgica, os médicos podem matar uma criança até 1 ano, se julgarem ter defeitos físicos, e isso sem perguntarem aos pais(16% dos médicos mataram sem nem avisarem aos pais). isso acontece hoje.

Cuidado. A liberdade pedida para proteger, pode matar.Em nome do Governo.

Paulo disse...

Dema, é meio retrógrado falar hoje em dia, e princialmente no Brasil, de agenda da esquerda, destruição da família.
Hoje a questão do aborto, assim como das drogas e do álcool, é de saúde pública e não ética ou religiosa. Religiosa nunca deveria ter sido. Na minha humilde opinião levar essa questão para o lado religioso é pura hipocrisia, é falta de argumentos científicos e, mais que tudo, calhordice e maldade. Há situações onde a mãe e o feto sofrem o risco de morte. Permitir isso é crueldade! Permitir o nascimento de um acéfalo, com perspectiva de sobrevida de menos de 24 horas é incutir um sofrimento à família, princialmente à mãe, por conta de uma suposta entidade que se crê existir (e eu creio!!) é de uma maldade somente comparada aos maiores assassinos da história (Hitler, Bush pai e filho e alguns outros que me falha agora). Os que mais defendem essa questão não estão reocupados com a ética ou religiosidade de verdade da questão, mas, sim, em poder dominar mais a mente e o destino de quem querem dominar. Só assim poderão usurpar mais e mais desses pobres coitados de espírito. Você entende muito bem o que quero dizer com isso.

Ademar Couto disse...

Se a moral é o fator que norteia a tomada de decisão de um homem ou de um líder, e a ética é a ciência da moral, e, seguindo o mesmo raciocínio, a moral norteadora dos povos ocidentais foi a moral baseada no texto sagrado, não vejo como impossível esta utilização. Vejo até como impossível trabalhar sem ela.

Em situações de risco, esta mesma moral reflete o conteúdo legal, permitindo que a vida da mãe possa ser poupada, mas cabe lembrar que é uma vida ou outra, mas já existem casos de gente anencéfala que possui vida comum e trabalho, o que, no mínimo, nos leva a avaliar nossas premissas a respeito.

minha premissa é: Se eu não tenho certeza que o que vou fazer possa causar dano a alguém, paro e espero adquirir esta certeza.

Você diz que os que defendem a idéia de serem cautelosos se equiparam aos assassinos. os assassinos que a história mostra, fizeram o contrário: aborto livre, assassinato de anecéfalos, seguido de assassinato de downs, deficientes e depois de homossexuais, judeus, ciganos...

Por isso, eu ainda que pareca retrógrado, falo abertamente de agenda de esquerda, pois pelo andar da carruagem, ela se repete. seja com monitoramento do cidadão, seja com as leis visando "bem estar e liberdades"para as minorias.