segunda-feira, 3 de novembro de 2014

A Canção do Tamoio







Não chores meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.

A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos,
Só pode exaltar.

Um dia vive mais!
O homem que é forte
Não teme da morte;
Só teme fugir;

No arco que entesa,
Tem certa uma presa,
Quer seja tapuia,
Condor ou tapir.

O forte, o covarde
Seus feitos inveja.
De o ver na peleja
Garboso e feroz;

E os tímidos velhos
Nos graves conselhos,
Curvadas as frontes.
Escutam-lhe a voz.

Domina, se vive:
Se morre, descansa
Dos seus na lembrança.
Na voz do porvir

Não cures da vida!
Sê bravo, Sê forte!
Não fujas da morte.
Que a morte há de vir!
E, pois que és meu filho,
Meus brios reveste;
Tamoio nascente,
Valente serás.

Sê duro guerreiro,
Robusto, fragueiro.
Brasão dos Tamoios
Na guerra na paz.

Teu grito de guerra
Retumbe aos ouvidos
De inimigos transidos
Por vil comoção,
E tremam de ouvi-lo,
Pior que o sibilo
Das setas ligeiras
Pior que o trovão.

E a mãe, nessas tabas,
Querendo calados
Os filhos criados
Na lei do terror.
Teu nome lhes diga,
Que a gente inimiga
Talvez não escute
Sem pranto, sem dor!

Porém, se a fortuna,
Traindo seus passos,
Te arroja nos laços
Do inimigo falaz,
Na última hora,
Teus feitos memora,
Tranquilo nos gestos,
Impávido, audaz.

E cai como o tronco,
Do raio tocado,
Partido, rojado
Por larga extensão;
Assim morre o forte!
No passo da morte
Triunfa conquista
Mais alto brasão.

As armas ensaia,
Penetra na vida:
Pesada ou querida,
Viver é lutar.

Se o duro combate
Os fracos abate
Aos fortes, aos bravos
Só pode exaltar.

 Gonçalves Dias.

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