Royal decide fechar instituto. Em “Animal Farm”, porcos viram bípedes; na fazendola brasileira, homens viram quadrúpedes
Que bom!
Ah, como é mesmo o nome dela? Luísa Mell (ainda não voltou para a TV?) venceu. O Bruno Gagliasso também. Nunca mais animaizinhos serão “torturados” no Instituto Royal. O laboratório decidiu fechar a sua unidade de São Roque, no interior de São Paulo. O Brasil está de parabéns. O deputado estadual Fernando Capez (PSDB-SP) pode bater no peito cheio de orgulho. O deputado federal Ricardo Tripoli (PSDB-SP), que “adotou” dois cães que pertenciam ao instituto, pode se orgulhar de sua obra.
A empresa já havia anunciado que pretendia retomar as atividades. Ocorre que a Prefeitura de São Roque, que já havia inspecionado o local sem encontrar nenhuma irregularidade, suspendeu a licença por 60 dias. A empresa alega que não tem condições de se recuperar do baque. A sua unidade do Rio Grande do Sul, que não realiza testes com animais, continua a funcionar normalmente.
Que bom! Agora estamos todos pacificados. No Jornal Nacional e no Fantástico, aprendemos que essa questão tem dois lados, “lado” e “outro lado”. Uns são contra testes com animais; outros, a favor. Decretado esse empate de “achares”, vence quem tem o argumento mais forte, não é? Como se trata de ciência, é evidente que o argumento mais forte é daquele que consegue ser mais ameaçador. Em matéria de ciência, deve prevalecer a força bruta, a truculência.
No comunicado em que anuncia o encerramento da atividade, o instituto diz que era o único a realizar testes pré-clínicos para desenvolver medicamentos para o tratamento de doenças como câncer, diabetes, hipertensão e epilepsia. “A partir de agora, qualquer empresa interessada na realização de testes para registro de medicamento será obrigada a realizar suas pesquisas fora do país, até que outro laboratório seja credenciado pelo Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal para essa atividade”, afirma a nota.
A menos que a Luísa Mell se apresente. A menos que Gagliasso se apresente. A menos que Capez se apresente. A menos que Tripoli se apresente. Mas nem assim adiantaria. Protocolos internacionais, próprios do mundo civilizado, obrigam que testes sejam feitos antes em animais…
Eis aí mais uma legítima conquista do chamado “espírito das ruas”. Afinal, não é assim? Nos dias que correm, a imprensa tem de ir aonde o “povo” está, certo? Se alguém cismar que a Lei da Gravidade é reacionária, é o caso de lhes dar voz; se alguém provar que a aritmética tem sido, historicamente, um instrumento usado pelas elites contra os justos, aboliremos esse instrumento da reação.
O próximo passo, agora, creio eu, é anunciar o fim do uso de porcos em aulas de traqueostomia. Médicos que fossem obrigados a realizar tal procedimento — um trauma mesmo para os mais experimentados — o fariam pela primeira vez em humanos.
Em “Animal Farm”, de Orwell, os porcos, que comandam a revolução, aprendem a andar sobre duas patas. No Brasil, vai se dar o contrário: seremos obrigados a andar de quatro. Aliás, foi essa a tentação confessa de Voltaire, revelada em carta ao próprio autor, quando leu o “Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens”, de Rousseau.
Voltaire e seu imenso nariz não sabiam o que estavam por vir. Este cão (segundo Miriam Leitão) se desculpa pela falta de jeito, é claro. Nessa toada, a “Revolução dos Bichos”, no Brasil, ainda vai virar uma fábula iluminista.
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