terça-feira, 22 de maio de 2012

Mea Maxima Culpa – mas a vida também tem disso. Minhas idiossincrasias . Ou “OF WOLF AND MAN”. (Pra tornar mais palatável)




Depois de tanto ouvir (se eu não tivesse ouvido tanto, isso mesmo, vocês estariam livres deste texto, portanto culpem as pessoas que me encheram o saco) pessoas dizendo que eu não devia pescar “porque machuca o peixe”, “já que você os machuca, por que não mata logo?” “que esporte sangrento, não tem nada melhor pra fazer?” e outras coisas mais, e eu tentando contra argumentar dizendo: “Acho melhor soltar depois de pescar” “eles vivem depois e se recuperam” “prefiro pescar a malhar”, eu resolvi fazer uma autocrítica. Não gostei do que vi e estou repartindo com vocês. Azar o de vocês.

Após muito pensar e analisar algumas das minhas paixões (pesca) e admirações (caça/ tourada; não, não gosto de rodeio, aquilo não me deixa alegre. Mas não é por causa dos animais e sim por puro gosto mesmo) e analisando minha opção pelo mundo natural, inclusive no campo profissional (sou veterinário de selvagens, amo resgates de fauna e vida no mato, gosto de ver bichos e de tratar animais, reproduzir também) eu vejo que não sou coerente com o tipo de ação que tenho realizado na vida.

Tá. E daí? O que fazer? Largo da veterinária e abandono tudo o que degringola a mãe natureza? Afinal veterinária, para os que não sabem, também é utilizada para produção animal (eu também trabalho produzindo animais para experimentação, ora... mesmo que regulamentada por CEUAs ainda assim é um tipo de abuso). Renego meu apreço por assistir um valente de 70 kg duelando com um touro furioso de 1000 kg? Renego minha admiração por sujeitos que se metem na floresta com uma besta ou um arco ou uma lança e rastejam à procura de um animal para lhes enfiar uma seta no coração, mesmo com tudo contra, ou seja, no terreno dos caras, vento contrário, terreno difícil e material da era do gelo?

Infelizmente nem apelar pra velha estorinha do lado primitivo eu poderia. Larguei esta coisa de “lado primitivo” e em “contato com a mãe natureza”. Primeiro porque eu estou em franco processo de desapego à ideia de lados primitivos. Não tenho lado animal. Todos os meus lados são humanos, pois sou humano. Não possuo lado animal, nem tentando, embora tenha tentado uma parte da minha vida (sempre aquela história de testar/tentativa e erro/análise empírica/cartesianismo científico).

Possuo dois lados, um dentro e um de fora, que me são totalmente meus e eu, que me lembre, nunca fiquei comendo capim de forma alegre. Gosto de carne ao ponto, fígado quase cru e tudo e todos sempre maturados, conforme só um humano(e alguns cães que moram com humanos) sabe apreciar. Logo, desisti de sentar no colo da mãe natureza, até porque eu vejo que a natureza é uma baita madrasta má. Não se pode dar mole pra ela que ela te janta. “Besides” , até pelo fato de ser mulher ela necessita de um homem para controlá-la. Mulheres são selvagens às vezes e podem descambar para o lado emocional. Se existe algo selvagem na humanidade, este lado, com toda certeza usa bolsas e veste calcinhas.

Portanto, a despeito do que os ecologistas de plantão possam achar, dizer, julgar e condenar, até porque eles não contribuem com minhas contas, eu renego aqui o meu pretenso saber natural. Sei que alguns amigos pode até ficar chateados comigo por uns dias, sei que a maioria vai discordar de outras formas, uns argumentando, outros falando que é mais uma abobrinha do Dema, que não esperou os 60 pra ficar senil, até porque já haviam indicativos inequívocos de suas impaciência para atingir as esferas “Alzheimicas”, mas o fato é que acabo de abandonar Darwin sozinho e não tem nada a ver com religiosidade e fé. Creiam-me, queridos amiguinhos e futuros detratores.

Então, é isso aí. Sou um cara que nasceu para dominar a caça, a patroa e as crianças, cada um de uma forma adequada, claro, que não vou correr o risco de administrar mal nada do que me é afeito (É. Não sou inimigo de nenhum deles!). Sou um indivíduo egocêntrico e não ecocêntrico, não faço parte do círculo de “amiguinhos” dos quais eu trato, admiro e caço às vezes. Preciso caçar pra me divertir e às vezes matar pra comer, pois algumas iguarias não são tão boas adquiridas na fila do supermercado.

Confesso que jamais desperdiçarei uma vida. Aproveitá-la-ei em toda a sua magnitude, desde o momento da preparação, passando pelos momentos da espreita e do golpe final até o momento do preparo e assimilação. Confesso também que jamais desperdiçarei a chance maravilhosa de caçar algo que me atraia, levando ou soltando, de acordo com a lei e de acordo com a moral que tenho, que aparenta ser sólida depois de tantos anos posta à prova. Embora pareça paradoxal para a maioria,  a verdade é que eu admiro os animais, mas não me canso de matá-los.

Talvez o meu modo de agir tão anti-natural, destruidor e capitalista em extremo acabe me colocando ao lado do que um amigo uma vez  definiu: “Uma maldita força da natureza(você é muito primitivo, Mané!)”. Talvez me olhem como um destruidor. Ou um predador. E talvez como um predador assumido(assumido por que eu cogito sum, o que pode me distinguir de um animal, então)  eu termine encontrando Darwin no fim da fila, e não no início (isso também parece incoerente? Eu também achei).

 

EU não me sinto confortável ao ver um apresentador qualquer de programa de pesca pegando o peixe, possivelmente apavorado e certamente machucado, carregado à força,  fazendo apologia à preservação e à beleza do mundo natural, diante de um peixe machucado por uma garatéia. Vê-los entoando odes à natureza bela, à preservação e ao pesque e solte porque é lindo, francamente me deixa constrangido. Preservaríamos melhor se os deixássemos em paz. Mas não conseguimos. Precisamos pescar, caçar, matar.

Pra mim não faz sentido.

Eu quero pescar e sabe por que eu faço isso? Porque gosto. 

Se dependesse de mim, garatéias não machucariam peixes. Mas não vou esperar um dia acontecer para começar a pescar, portanto eu pesco, caço, mato, porque eu , de alguma forma preciso fazer.

Se isso me coloca distante do ecológico, por ser mais forte que eu, continuo no encalço da minha caça. 




Mas quer saber? Não me importo.

Self Pity
I never saw a wild thing Sorry for itself.
A small bird will drop frozen dead from a bough
Without ever having felt sorry for itself.



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