Também não vou falar da saudade que sinto do meu velho pai.
E ultimamente ele tem feito uma falta terrível.
Guardo uma mágoa. Meu pai não teve a alegria de conhecer meus filhos. Acho que ele iria se aconchegar ao doce Leonardo e iria se divertir muito com a Luiza selvagem.
Nós, os pais, somos inferiorizados em relação às mães e à sua disponibilidade em relação aos filhos, sua total entrega e seu desvelo sem medidas para trocar suas fraldas cheias de merda e xixi, portanto, nem adianta comparar o sufoco de um pai ao trabalhar o dia inteiro em qualquer ambiente de trabalho necessário e muito menos comparar uma noite sem dormir nossa com a de uma noite de uma mãe.
Nós sempre perdemos. E nem ligamos.
Por exemplo, acabei de acordar, meus filhos estão ao meu lado, mas nem lembraram de me abraçar e dizer: Feliz dia dos pais, como sempre fazem com a mamãe. Nem presente eu vou ganhar, Alessandra ganha dois por dia das mães.
E mesmo assim, estou confortabilíssimo. Eu não ligo pra isso.
Nós realmente não ligamos. (daqui a pouco alguém vai ler o texto e ligar pra cá, dizendo às crianças: _ vão lá, dar um abraço no seu pai")
Mas sim, passamos noites sem dormir ao vermos nossos filhos doentes, abrimos portas e arrastamos correntes pela tensa e inacabável noite, mas a partir do momento que agimos como homens que somos, ao chutarmos portas e esmurrarmos paredes diante de nossa impotência ao não conseguirmos ficar no lugar dos nossos filhos, recebendo a doença que eles não deveriam pegar, perdemos feio pra elas, pois sofrimento fica melhor na fita quando é vivido com lágrimas e não com raiva.
Mas nós não ligamos.
Continuamos nossa sina solitária, sem comentar e nem dividir. É o nosso caminho. Gostamos de ser assim.
Mas outro dia, ao ouvir pela décima vez a historia bíblica das mães e o rei Salomão na disputa de uma criança, pensei:
Ainda bem que o Santo Deus é sábio e perfeito.Colocou duas mulheres para disputar um filho, pois o desfecho seria muito diferente se no lugar delas fossem dois homens.
No exato momento em que Salomão sacasse a espada para "fazer justiça", o final justo jamais teria acontecido.
Com toda a certeza do mundo, digo isso como pai, ao pensar no que são meus filhos na minha vida, invariavelmente necessito disfarçar a emoção nos meus olhos. O sol nasce pra mim quando meus filhos acordam e se põe quando eles fecham os olhos.
Quando salomão empunhasse a sua espada, o verdadeiro pai, sem gritos súplicas ou alardes, em silêncio de quem sabe o que deve ser feito, orgulhosamente teria sacado sua faca e teria cortado a garganta do rei de Israel, mesmo sabendo que seria a última vez que veria seu filho.
Eu, por um filho meu, teria alegremente degolado qualquer rei que se colocasse no caminho dos meus filhos. Sentiria o sangue quente descendo pela minha mão e esperaria impassível no meu peito a lança do capitão da guarda. Nós os pais, não ligamos. gostamos de ser assim.
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